sexta-feira, janeiro 19, 2007

Pelo fim da cornalização

Aqui, no topo dos meus 26 anos, me considerava um sobrevivente.

Sobrevivi à propagação da AIDS nos anos 80, sobrevivi à propagação da miséria nos anos 90, contudo, apesar de todo este histórico e pedigree, acho que não conseguirei escapar ileso deste começo de novo milênio.
Existe uma nova epidemia se alastrando por aí, e não adianta usar camisinha, fazer figa, tomar Bezetacil ...tudo inútil, estamos totalmente expostos à ela: a propagação da Corno Music!

Com base nos hits musicais dos últimos dez anos, posso afirmar sem medo de errar que esta geração de cantores deve ser a mais incompetente no trato com o sexo oposto nos últimos 50 anos, pelo menos.
Faça um cálculo rápido: quantas músicas você ouviu nesta última década que tivesse pelo menos um verso com coisas como você me deixou / sinto sua falta / minha cama está vazia sem você / volta pra mim / e coisas do gênero.
Centenas? Milhares? Se você for ouvinte de FM, possivelmente dezenas de milhares! Haja chifre queimado!

O que houve com a geração espadaúda da música brasileira? Cadê os sucessores de Chico Buarque, Waldick Soriano e Wando? Homens que mostravam a cobra e matavam o pau (ou algo parecido) quando o assunto era mulher?Será possível que com tanta mulher que eles carcaram em vida, não conseguiram espalhar seus descendentes por aí?
Será possível que só o Odair José conseguiu crescer e se multiplicar?
Será? Será?

E dá-lhe sertanejo chorando chifre, dá-lhe pagodeiro chorando chifre, dá-lhe roqueiro chorando chifre, dá-lhe disco inteiro chorando pé na bunda, você entra no ônibus, guampa! Liga o rádio, guampa! Chega no serviço, guampa! Liga a TV na casa da namorada, guampa! Meu Deus, se eu gostasse de guampa iria trabalhar em fábrica de cuia! Alguém pare o mundo que eu quero descer!

Se isso fosse apenas um chifrudo malefício local, ainda teria esperança na contenção da epidemia, mas a praga do chifre atinge proporções globais (música de suspense: tcharããããã!!!).
Pense no Creed, no Radiohead, pior, pense nas 368 bandas emocore que surgiram nos últimos meses (não vou citar nomes porque não nasci com a fantástica habilidade de diferenciar uma da outra).
O que anda gerando este estranho fenômeno? As modernas comidas industrializadas? A poluição? O efeito estufa? O novo Papa? Tudo isto junto? Não sei... não sei...
Imagino as gerações futuras - todos portando seus belos cornos na testa - estudando esta época nas escolas e chegando à conclusão que, mais que a era da globalização, esta foi na verdade a era da cornalização.

Existem algumas curas para este mal – nem um pouco recomendáveis, devo afirmar - como por exemplo, só ouvir funk carioca.
É um tratamento radical, eu sei, pode matar ou deixar graves seqüelas nos que sobreviverem, como por exemplo o impulso irresistível de mexer a bunda toda hora na famosa posição da motinho.
Conheço casos de várias famílias que foram destruídas por este tratamento. É mais ou menos o equivalente à decapitação para se livrar de piolhos.
Muito pouco recomendado.

Guampas são um grande mal: são esteticamente feias, fazem mal para o pescoço e a coluna, engancham em fios e portas, fazem o portador ser vítimas de piadas maldosas, dificultam o uso de chapéu ou boné e como se não bastassem tudo isto, ainda são a matéria-prima da Corno Music.
Combata este mal. Encerro estas linhas extensas com um apelo:
Caro amigo, restaure a imagem do macho nacional. Diga não à cornalização!
Ouça Waldick Soriano.

Fábio Ochôa

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Tenho uma teoria.
(finja surpresa)

Acho que vão refazer tantas vezes a mesma música( com ligeirissimas alterações, evidentemente) que daqui a pouco, de tanto fazer isso, vão descobrir uma nota bestificante e mortal que acabará definitivamente com a humanidade.
Se você pensar bem. tá na hora.
Abraços.
Juno

10:22 AM  

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