quinta-feira, maio 25, 2006

Loucos anos loucos...


Ah, a era de prata dos quadrinhos... alguém ainda se lembra de Krypto, o supercão, Raiado, o supercavalo, e Beppo, o supermacaco?
Pois é, anos 60, época de uma criatividade digamos... excessiva, para dizer o mínimo.
Foi nesta época que surgiu alguma das idéias mais nonsense e hilárias dos quadrinhos.

O site www.superdickery.com indicado por um amigo meu, veio rapidamente a se tornar um dos meus favoritos, fazendo um compêndio geral de todas as idéias ultrajantes que surgiram nesta época.

Para espantar qualquer mal-humor.

Boa diversão!

Fábio Ochôa

quarta-feira, maio 24, 2006

Guia para Fugir do Marasmo 02

Segunda parada: Sexus- Henry Miller

Em primeiro lugar, o óbvio: Henry Miller É um canalha.
Um canalha no melhor sentido da palavra, que fique bem claro.
Lendo seus livros não é preciso um esforço de imaginação lá muito grande para perceber o porquê dele ter sido repudiado como o diabo nos circuitos literários da década de 30, Miller é um dos poucos autores que escreveram com um despojamento e uma franqueza brutal, detalhando todos os pormenores sujos que a sociedade da época tentava esconder.
Ávido por sexo, picareta por natureza, aproveitador da boa-fé alheia, extasiando-se com carne e palavras, dono de uma alma, Henry Miller viveu, viveu com “V” maiúsculo. Existiu, viveu profundamente cada passo da sua existência, da sua rotina mundana, e em cada passo desse processo, nos lembra que ainda estamos vivos.
Que ainda nos movemos.
Sentimos.
Existimos.
Henry Miller É um canalha. Um canalha da maior espécie. Aquele tipo de canalha franco e sorridente, que nos agride com palavras e torna impossível não nos enxergamos nele, quando nos despimos de todas as imagens preconcebidas que fazemos a nosso próprio respeito.

Trecho Antológico:
“ A melhor coisa que há em escrever não é o labor em si de colocar palavra contra palavra, tijolo sobre tijolo, mas as preliminares, o duro trabalho inicial, que se faz em silêncio, debaixo de quaisquer circunstâncias, em sonho assim como acordado. Em suma, o período de gestação. Homem nenhum jamais consegue escrever o que tencionava dizer: a criação original, que está acontecendo o tempo todo, quer a gente escreva ou não escreva, pertence ao fluxo primário: não tem dimensões, forma, ou elemento de tempo. Nesse estado preliminar, que é a criação e não o nascimento, o que desaparece não sofre destruição, algo que já estava ali, algo imperecível como a memória, ou a matéria, ou Deus, é convocado, e a esse algo nos atiramos como um galho numa torrente. Palavras, sentenças, idéias, não importa quão sutis ou engenhosas, os vôos mais loucos da poesia, os sonhos mais profundos, as visões mais alucinantes, nada mais são do que hieróglifos toscos cinzelados em dor e tristeza para comemorar um evento que é intransmissível. Num mundo inteligentemente ordenado não haveria necessidade de fazer a tentativa irracional de registrar tais acontecimentos miraculosos. Na verdade, isso não teria sentido, pois se os homens apenas parassem para refletir, quem se contentaria com a falsificação quando o autêntico está a disposição e ao alcance de todos? Que homem desejaria ligar o rádio e ouvir Beethoven, por exemplo, quando poderia ele mesmo experimentar as harmonias arrebatadoras que Beethoven lutou tão desesperadamente para registrar? Uma grande obra de arte, quando chega a realizar alguma coisa, serve para nos lembrar ou, digamos melhor, para nos pôr a sonhar com tudo aquilo que é fluido e intangível. Vale dizer, o universo. Não pode ser entendida: só pode ser aceita ou rejeitada. Caso aceita, ficamos revitalizados, se for rejeitada, isso nos diminuirá. O que quer que pretenda ser, não o será: é sempre algo mais, a respeito do que nunca se dirá a última palavra. Ela é tudo o que nela colocamos devido à fome daquilo que nos negamos cada dia de nossas vidas. Se nos aceitássemos tão completamente assim, a obra de arte, na verdade o mundo todo da arte, morreria de subnutrição. Todo mortal como nós se movimenta sem os pés pelo menos algumas horas por dia, quando os olhos se fecham e o corpo fica de bruços. A arte de sonhar completamente desperto estará à alçada de todo homem um dia. Muito antes disso os livros terão deixado de existir, pois, quando os homens estiverem inteiramente acordados e sonhando, seus poderes de comunicação (uns com os outros e com o espírito que anima todos os homens) serão tão realçados que farão o ato de escrever parecer-se com os grunhidos ásperos e roucos de um idiota.”

Fábio Ochôa

terça-feira, maio 23, 2006

Guia pra Fugir do Marasmo 01


Um tanto cansado do mais do mesmo? Cansado dos Códigos DaVincis e Harry Potters a inundar as prateleiras? Querendo ler algo que tenha alguma carne nos ossos, algum coração a bater e não apenas o amontoado de clichês de sempre?
Pois bem, caro amigo, existe algumas pérolas ocultas por aí, livros que mostram que a humanidade ainda tem (será?) salvação.
Pois bem, pegue seu capacete, cuidado com os cadáveres que andam na multidão (muitos, numerosos) e vamos fazer uma viagem pelas coisas legais que andei lendo nos últimos tempos.

Primeira Parada: O Inventor da Solidão- Paul Auster

Um dos textos mais sinceros e pungentes que li nos últimos 10 anos.
O Inventor da Solidão começou a ser escrito 3 dias depois da morte do pai de Paul Auster.
No livro, ele vai empilhando memórias e pensamentos, tentando formar um retrato daquele homem com o qual ele conviveu a vida inteira e ao mesmo tempo nunca conseguiu conhecer além da superfície.
Uma viagem emocional de primeira categoria. Leitura obrigatória.

Trecho antológico:
“Mesmo antes de morrer ele estivera ausente, e há muito as pessoas mais próximas haviam aprendido a aceitar essa ausência, a considerá-la a característica fundamental de seu ser. Agora que ele se fora, não seria difícil para o mundo absorver o fato de que partira para sempre. Seu modo de vida havia preparado o mundo para sua morte- tinha sido uma espécie de morte antecipada- e se e quando ele fosse lembrado, seria vagamente, apenas vagamente.
Isento de paixão, fosse por alguma coisa, pessoa ou idéia, incapaz ou indesejoso de revelar-se em qualquer circunstância, ele conseguira manter-se a distância da vida, evitar a imersão na rapidez das coisas. Comia, ia ao trabalho, tinha amigos, jogava tênis, e apesar disso não estava ali. No sentido mais profundo e inabalável, era um homem invisível. Invisível aos outros, e muito provavelmente invisível a si mesmo. Se, enquanto esteve vivo, eu costumava procurá-lo, tentando encontrar o pai que não estava lá, agora que morreu ainda acho que devo continuar a procurá-lo.
A morte nada mudou. A única diferença é que para mim o tempo se esgotou.”

Fábio Ochôa