sexta-feira, julho 07, 2006

O Adeus de Charlie Brown


Foi com uma tristeza autêntica que eu vi esta tira. E isto é raro.

Esta foi a última tira publicada de Snoopy (ou Minduim ou Charlie Brown ou Peanutz, escolham o que melhor lhes convir), na ocasião, Charles Schuz seu criador estava gravemente enfermo, enfrentando um câncer terminal.
Schulz sabia que não tinha muito tempo de vida quando produziu ela.
O que estamos vendo aqui não foi apenas mais uma piada dominical, mas sim um homem se despedindo de seus personagens, de seus leitores (eu incluso), de seu trabalho.
De sua vida.
Foi um adeus ao mesmo tempo doce e melancólico, como só ele sabia fazer.
Um adeus fiel ao estilo de trabalho que ele desenvolveu ao longo de 35 anos.
Quando eu soube disso por alguns momentos realmente me deu vontade de chorar.

Snoopy (ou Charlie Brown, ou Minduim, ou Peanuts, enfim) foi uma tira que sempre me chamou atenção, mostrando o dia-a-dia do fracassado crônico Charlie Brown, seu cão beagle Snoopy (verdadeira coqueluche merchandising dos anos 70 e 80) e os amigos que orbitavam ao seu redor, Lucy, Linus, Scroeder, Marcie, Sally, entre outros.

A tira de traços simples e enganosamente infantis sempre foi marcada por uma melancolia amarga e serena. Suas piadas raramente me faziam rir, mas trazia sempre um sorriso sincero em quem tinha coração. Ler Peanuts era como relembrar um tempo que se foi. Uma nostalgia infinita.
Era como olhar para si mesmo à anos atrás.
Um sentimento incerto, quase impossível de colocar em palavras exatas.
Possuíam uma beleza, ainda que melancólica.
Uma singelez amarga.

Me lembrar de Charlie Brown, o bom perdedor, é sentir estas emoções, é me lembrar de amigos que nunca mais vi, me lembrar de uma infância a cada ano mais distante e idealizada, é me lembrar do time de baseball eternamente perdedor, me lembrar do cãozinho que voa em sua casa, transformado no Barão Vermelho, é me lembrar da paixão recolhida à distância e nunca declarada pela menininha ruiva (quem nunca teve uma paixão por uma "menininha ruiva" que atire à primeira pedra).
É me lembrar da minha vida.

Este ótimo blog aqui abaixo, foi encontrado por acaso na internet tem as tiras iniciais de Peanuts traduzidas, quem quiser se aventurar, é uma ótima leitura.
http://tiras-snoopy.blogspot.com/

Fábio Ochôa

1 Comments:

Blogger Bruno "Jesus" said...

Tche...
Eu senti muito a morte do Eisner,meses atrás, como se fosse um tio ou avô meu...
E, embora eu nunca tenha tido um envolvimento tão emocional com a obra do Schulz, ler uma carta dessas... tão suscinta, tão simples e acima de tudo, tão verdadeira... me tocou mesmo.
Cara... não consigo dizer mais nada.

11:51 PM  

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