

No último fim-de-semana concluí a leitura do calhamaço de A Estação das Brumas.
Foi um tanto quanto broxante...me bateu aquela sensação de “ok, isso é um clássico dos quadrinhos? Porquê?”.
Sempre fui um leitor esporádico de Sandman, catando um exemplar aqui, outro ali, geralmente gostava do trabalho do Gaiman, embora desconfiasse que no fim das contas, após tanto blá-blá-blá, Sandman não passava de um gibi tão profundo quanto um pires.
Tive que ler dois encadernados para me certificar que é mesmo. Já apanhei vento por aí mais consistente que aquilo.
Neil Gaiman é cheio de boas idéias, mas peca feio no desenvolvimento delas, arrastando as sagas pra lá e pra cá e no fim das contas não chegando a lugar nenhum.
Todas as idéias boas e sacadas acabam ficando perdidas pelo meio do caminho, sem um desenvolvimento ou conclusão mais trabalhada. Talvez um exemplo bem claro disto seja o destino da Chave do Inferno em Estação das Brumas... simplesmente QUALQUER decisão que o autor tomasse, seria mais interessante –porém trabalhosa enquanto escritor- do que a que a história assume, Neil Gaiman joga a idéia de que tudo pode acontecer e quando é hora de chegar às vias de fato, dá uma saída pela direita no melhor espírito Leão da Montanha, finge que não é com ele e escolhe um final pra lá de preguiçoso e cômodo.
Mais broxante que levar a Natalie Portman pro motel e descobrir que ela é homem.
Escrever é correr riscos. As grandes histórias nascem daí.
Nem o fato de Sandman ser um redondo zero no quesito profundidade me incomoda.
Uma história pode ter por proposta apenas diversão e ser uma autêntica obra-prima em termos de arte, tá aí o Pato Donald do Carl Barks, Asterix, o Gaulês, Tintin, Lucky Luke, toda a obra do Jack Kirby, Blueberry nos bons tempos do Charlier, etc, etc, etc, que não me deixa mentir.
O que me incomoda é a autêntica obsessão de Neil Gaiman em querer a todo custo nos mostrar a cada página como ele é culto-profundo-inteligente-erudito-etc-coisa-e-tal, então dá-lhe citação a poetas obscuros ingleses do século XVIII em cada página (mesmo que isso não acrescente NADA ao diálogo ou à história em si) , dá-lhe referências obscuras de ocultismo e cultura pop do século XX, dá-lhe ápices da profundidade PauloCoelhanas como “um lugar que não é um lugar, em um espaço que não é o espaço” jogados pelas páginas.
No meio disto tudo ele acaba esquecendo que o que realmente importa é contar uma boa história... erudição vazia é mero exibicionismo e não serve para nada.
Alguém já parou para refletir no que que realmente muda sua vida ou sua visão de mundo descobrir que Odin é também chamado de Wotan, ou coisa que o valha?
Saudades recente de gente como Alan Moore, Ray Bradbury, Paul Chadwick e Bill Watterson... podem não ser tão moderninhos e não ter tantos fãs, mas sabem divertir, surpreender e fazer pensar e repensar a nossa própria vida como ninguém.
Sem precisar de um caminhão de referências para isto.
Fábio Ochôa